Tim Vickery: “Zagallo aos 80, uma lenda do futebol”

Tradução: Thales Machado Na semana passado Mario Zagallo celebrou seu 80º aniversário – uma data que também serve como celebração para o futebo brasileiro.  Durante sua história de mais de cem anos, o Brasil produziu melhores jogadores – e com algum argumento, melhores técnicos tamvém. Mas houveram poucas figuras tão importantes como Zagallo, campeão mundial […]
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sambafoot_admin
2011-08-15 22:47:00

Tradução: Thales Machado

Na semana passado Mario Zagallo celebrou seu 80º aniversário – uma data que também serve como celebração para o futebo brasileiro. 

Durante sua história de mais de cem anos, o Brasil produziu melhores jogadores – e com algum argumento, melhores técnicos tamvém. Mas houveram poucas figuras tão importantes como Zagallo, campeão mundial como jogador em 1958 e 62, como técnico em 1970 e como assistente técnico em 1994. Ele foi com o Brasil em outras duas Copas do Mundo, as duas na Alemanha, e nenhuma com final feliz. Ele estava no comendo em 1974, e foi assistente de Carlos Alberto Parreira em 2006, ambas campanhas desapontadoras.

Poucos meses aintes do último torneio, ele me deu uma sensacional entrevista olhando para o passado de sua carreira, e especificamente suas memórias de Pelé. Eles eram colegas de times no dois primeiros triunfos do Brasil, Pele jogou treinado por Zagallo em 1970, mas quatro anos depois não o convenceu de ir a Alemanha. Isso era algo que Zagallo, décadas depois, ainda era incapaz de entender. Para ele não há explicação plausível para recusar representar o Brasil em uma Copa do Mundo. Apontei dizendo que ele jogaria, mesmo aos 70, se Parreria o selecionasse. “Eu não ia correr muito” disse com um meio sorriso, “mas eu jogaria”.

Foi uma resposta magnífica – eu ainda rio pensando nela. Nos leva direto à alma de um homem que, quando se corta, provavelmente sangra em verde e amarelo. Mas há muito mais em Zagallo do que o fanático na causa do futebol de seu país. O seu entusiasmo é maravilhoso, uma coisa contagiosa. Mais importante do que o entusiasmo, é a idéia, o grande conceito que permitiu o Brasil se tornar o grande país que ganhou a Copa do Mundo mais do que qualquer outro. Essa idéia é perceber a importância do balanço entre o ataque e a defesa – algo que Zagallo, como jogador e técnico, simboliza mais do que qualquer outro. 

Atacar brilhantemente é algo que o Brasil é capaz de fazer desde que o jogo virou profissional, abrindo chance para que todos, de todos os níveis sociais pudessem fazer uma carreira. O time de 1950 mostrou o jeito mais atrativo de jogar, com um soberbo Zizinho entre os atacantes e um Jair fazendo lançamento para o atacante Ademir chutar. Mas não venceram o troféu porque, na hora H, Uruguai achou um buraco na sua defesa. 

Mas, se não há buraco, se o time não concede um gol, então eles ganham pela sua habilidade de atacar – e essa é a história do sucesso do Brasil. Em 1958 o Brasil introduziu a linha de quatro, com o conceito chave da cobertura defensica. E um jogador extra foi retirado para o coração da defesa. Mas ainda havia dois pontas, um atacante central, e um atacante. O grande perigo do novo 4-2-4 era que os dois do meio poderiam ser inundados. 

Zagallo se tornou um ponta esquerda pelas ambições internacionais que tinha. Brasil tinha as mais soberbas opções para preencher as mais importantes posições no ataque – na ponta esquerda tinha menos competição. Agora ele vê que poderia ser mais útil para a equipe se trabalhasse para voltar ao meio campo, enchendo a área. Quando sua equipe tinha a bola, era um ponta, carregando a bola em ameaça à baliza adversário com seus dribles, cruzamentos e disparos. Mas quando os adversários tinha à posse de bola, era um meio-campo, que voltava, ajudando a marcar. Ele era dois jogadores em um.

O Brasil ganhou a Copa de 1958 sem tomar um gol até a semifinal. Quatro anos depois, no Chile, a contribuição defensiva de Zagallo foi ainda mais importante já que o lateral esquerdo Nilton Santos tinha 37 anos e já tinha no passado seus melhores momentos. 

Oito anos depois, resumindo, Zagallo virou comandante do time em construção parao México em 1970. Muitos tendem a minimizar sua contribuição, com o argumento que ele teve muita sorte de assumir um tima já pronto, construído por um carismático predecessor, João Sadanha. Não é nada contra as virtudes de Saldanha, em dirigir o tiem com sucesso nas Eliminatórias. Sua equipe, porém, aind ajogava no 4-2-4. Zagallo, ciente de que o jogo tinha mudado, foi inflexível dizendo queo Brasil não teria chances de vencer a Copa do México com esta formação. Ele apertou mais as coisas. Algumas mudanças de cunho pessoal, mas a grande chave foi na abordagem tática. Zagallo deixou apenas Tostão improvisado como centro-avante. Quando o adversário estava com a bola, todos os outros vinham atrás da linha da bola. A equipe de 1970 poderia ser vista como a pioneira do 4-5-1, ou do 4-2-3-1. A grandeza é que estavam taticamente a frente de seu tempo, especialmente no equilíbrio entre ataque e defesa. 

A importância dessa lição, e do jogador Zagallo, foi algo que a Inglaterra pegou rápido. A equipe de Alf Rmasey que ganhou a Copa do Mundo em 1996, essencialmente, contou com um Zagallo em casa lado: Alan Ball na direita e Martins Peters na esquerda, que eram um novo tipo de jogador versátil, capaz de desempenhar funções de um ala, mas também comptentes no trabalho de volta ao meio campo.

Tais situações foram levadas mais a fundo, pela Holanda em 1974 – uma equipe de 11 homens que parecia estar viva, respirando união, pressionando juntos para ganhar a bola, avançando juntos em busca do gol adversário – tudo isso em um conceito de cersatilidade que Zagallo mostrou ao mundo.

O fato de que sua equipe de 1974 fosse completamente batida pelos holandeses é uma das ironias que Mario Zagallo pode relembrar em suas reflexão sobre sua carreira, uma das mais influentes da História do futebol.

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