Coluna Tim Vickery: A força em números necessária para os clubes brasileiros na Copa Libertadores

Apesar de vencer as últimas Copas, os clubes brasileiros devem fazer mais coletivamente Os últimos quatro campeões da Copa Libertadores vieram do Brasil – o que é de se esperar. No futebol profissional, o dinheiro importa. E um abismo financeiro se abriu entre os clubes brasileiros e os do resto do continente. A receita foi […]
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sambafoot_admin
2014-01-28 18:48:00

Apesar de vencer as últimas Copas, os clubes brasileiros devem fazer mais coletivamente

Os últimos quatro campeões da Copa Libertadores vieram do Brasil – o que é de se esperar. No futebol profissional, o dinheiro importa. E um abismo financeiro se abriu entre os clubes brasileiros e os do resto do continente. A receita foi fluindo de patrocínios de direitos de TV. Como consequência, todo o talento da América do Sul está se direcionando ao Brasil. Andrés D’Alessandro, do Internacional, lidera um contingente cada vez mais forte de jogadores argentinos no Brasil. Mas não há muita visibilidade de brasileiros na Argentina – ou os clubes argentinos não podem pagar por eles.

Não é surpresa, então, que o Brasil está dando um aperto na Libertadores. A surpresa é que o aperto não é ainda maior. Voltamos à 2010, ano em que o Internacional venceu a “Liga dos Campeões da America do Sul”. Naquele ano havia quatro brasileiros entre os oito melhores. Alguém poderia pensar que, com a vantagem financeira do Brasil crescendo ano a ano, esse domínio ficaria cada vez maior. Na verdade, o oposto aconteceu.

Em 2011, o Santos, que foi campeão naquele ano, foi o único brasileiro a chegas às quartas de final – e eles tiveram sorte de passar pelo América do México nas oitavas. Nos últimos dois anos o Brasil teve apenas dois clubes entre os oito melhores em cada – o Fluminense (nos dois anos) e os campeões Corinthians, em 2012, e Atlético-MG, no ano passado.

Se Victor, goleiro do Atlético-MG, não tivesse defendido um pênalti nos acréscimos contra o Tijuana, não haveria nenhuma representação brasileira na semifinal da Libertadores – surpreendente, dado o balanço financeiro. O Atlético-MG precisou da disputa de pênaltis para ganhar tanto a semifinal quanto a final. A decisão foi contra o Olimpia, do Paraguai – cuja folha salarial do elenco completo não daria para manter nem Ronaldinho. Mas esse desequilíbrio nunca mais foi visto em campo. Depois de uma luta tensa, que poderia ter ido para qualquer um dos lados, o Atlético-MG precisou dos pênaltis para se sagrar campeão.

Há algo emocionante nisso – uma observação que o dinheiro pode ser importante, mas nem sempre é determinante; que o futebol sempre retém a capacidade de gerar surpresas. Ele também pode levar a uma interpretação de que o futebol brasileiro nacional está aquém de seu potencial – uma visão que os desempenhos no Mundial de Clubes ao longo dos últimos anos tende a apoiar.

Então, e o deste ano? Há alguns rivais interessantes em campo: San Lorenzo, da Argentina, com um grupo altamente promissor de jovens comandados por Edgardo Bauza, técnico que levou a LDU ao título continental em 2008; o Atlético Nacional, da Colômbia, sob a liderança de Juan Carlos Osorio, vencedores de ambos Campeonato Colombiano e Copa da Colômbia em 2013; ou o Cerro Porteño, do Paraguai, com uma geração fantástica sob a batuta de Francisco Arce, ídolo de Palmeiras e Grêmio, que venceu o último campeonato nacional sem sofrer uma derrota sequer.

Como se levantará o desafio brasileiro? Claramente a equipe que todos querem ver é o Cruzeiro. Eles conseguiram manter a forma que os levaram confortavelmente ao título brasileiro no ano passado? Alguns têm suas dúvidas. Aconteça o que acontecer, o formato da competição, com mata-mata dentro e fora de casa, vai testa-los mais do que o Campeonato Brasileiro de 2013 foi capaz.

Surpreendentemente, dos seis clubes brasileiros desta Libertadores, o Cruzeiro é um dos únicos que não mudou o seu treinador no final da temporada, ao lado do Flamengo que manteve Jayme de Almeida, que foi um grande improviso no ano passado e agarrou sua oportunidade em grande estilo.

Os outros quatro fizeram mudanças – uma tendência que tem muito a ver com uma percepção alarmante feita por clubes do Brasil. Suas despesas estavam fora de controles. De repente, o dinheiro não é tão abundante.

Receitas de direitos de TV podem ter crescido, em uma década, de R$300 milhões para R$1,5 bilhões, mas, como o especialista em negócios esportivos Amir Somaggi salienta, “os clubes gastaram-nos, e alguns até chegaram a pegar empréstimos bancários também”. De repente, o cenário parece mais sombrio. O governo agora está tendo uma linha mais dura com clubes que possuam dívidas fiscais. Há um ano, escrevia o jornalista Carlos Mansur, no jornal “O Globo”, que o céu parecia o limite para os clubes brasileiros. No entanto, o limite parece ter sido ultrapassado e o mercado de pré-temporada de 2014 tem a marca da recessão.

O Botafogo também sofreu com perda de receita resultante do fechamento temporário do Engenhão. Eles deram um adeus relutante à Clarence Seedorf. O treinador Oswaldo de Oliveira também saiu. Nenhuma tentativa foi feita para trazer um grande substituto. Ao invés disso, foram para uma solução caseira e promoveram o ex assistente Eduardo Húngaro – que já foi vaiado pela torcida na abertura do Campeonato Carioca.

O clube está assumindo um risco. O Botafogo está embarcando para a sua primeira Libertadores desde 1996 – que começa na pré-Libertadores, em dois jogos contra o Deportivo Quito, do Equador. Seus oponentes têm a altitude a seu favor em sua partida em casa, mas estão em uma situação financeira muito pior que o Botafogo. Seus craques do ano passado foram vendidos, com alguns substitutos sendo contratados. Seria realmente um desastre se a aventura do clube carioca na Libertadores acabasse após apenas dois jogos. Húngaro, então, está sendo lançado sob uma pressão profunda.

O outro lado brasileiro na primeira fase da competição é o Atlético-PR, uma das surpresas da última temporada. Sua decisão de não manter o treinador Vagner Mancini só pode ser descrito como desconcertante. Talvez, a decisão também tenha sido impulsionada por considerações financeiras. Os recursos financeiros do Atlético estão sendo esticados devido à necessidade de seu estádio estar pronto para a Copa do Mundo. Entra em cena um treinador espanhol, confusamente chamado Miguel Angel Portugal, que era treinador do Bolívar. Presumivelmente, ele vem mais barato do que era Vagner Mancini e, embora o Atlético seja o favorito para avanças à fase de grupos, o Sporting Cristal, do Peru, tem poder de fogo suficiente para fazer coisas interessantes – uma palavra que se aplica muito ordenadamente para as perspectivas de todos os seis clubes brasileiros na Copa Libertadores 2014.

 

Traduzido por Marcos Gil

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Jan 28, 2014

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