A Federação Internacional das Associações de Jogadores de Futebol Profissional (FIFPro) divulgou um relatório contundente sobre o calendário do futebol. A entidade, que atua como sindicato global dos atletas, aponta que a atual organização do calendário coloca em risco a saúde, a performance e a longevidade da carreira dos jogadores.
O documento denuncia a ausência de períodos adequados de férias, a sobrecarga de partidas e as longas viagens internacionais, que aumentam a fadiga e dificultam a recuperação física. Um ponto que chama atenção é o uso cada vez mais intenso de jogadores menores de idade, especialmente no Brasil.
Estudo da FIFPro liga sinal de alerta no futebol mundial
- FIFPro alerta para riscos de lesões e carreiras mais curtas;
- Relatório denuncia calendário "sem fim" e férias insuficientes;
- Entidade propõe mínimo de 28 dias de férias mais 28 dias de pré-temporada;
- Casos extremos de jogadores com 70 jogos ou mais por temporada reforçam o alerta;
- Além disso, limite de jogos para menores de 18 anos é considerado fundamental.
Jovens brasileiros jogam cada vez mais minutos
Segundo dados do estudo da FIFPro, o futebol brasileiro tem acelerado o processo de inserção de jovens promessas. Jogadores como Neymar, Vinicius Junior, Endrick e Estevão ultrapassaram, ainda adolescentes, a marca de milhares de minutos em campo por clube e seleção.
O relatório alerta que essa sobrecarga precoce pode reduzir a longevidade das carreiras. Para a FIFPro, é essencial que haja um limite de carga estabelecido para atletas abaixo dos 18 anos.
Comparação com outros esportes
A FIFPro também destaca que o futebol destoa de outras modalidades de alto rendimento quando se trata de descanso. Enquanto jogadores de futebol de elite têm, em média, três semanas de férias, atletas da NBA chegam a desfrutar de até 14 semanas — e até 23 semanas no caso de jogadores que não disputam os playoffs.
No beisebol americano, o período de recesso varia entre 15 e 20 semanas. Para os médicos consultados pela entidade, o ideal seria que os jogadores de futebol tivessem 28 dias de férias e mais 28 dias de pré-temporada antes do início de cada ciclo competitivo. No entanto, nenhum clube participante da última Copa do Mundo de Clubes concedeu esse período mínimo.
The football calendar isn’t a cycle anymore. It’s a treadmill. 🏃♂️⚽️
Players are being pushed from one season to the next without the recovery or preparation time experts say they need.
📊 @Football_BMhttps://t.co/yIfJQeiIYNpic.twitter.com/tc4Cq857UC
— FIFPRO (@FIFPRO) September 29, 2025
Jogadores sobrecarregados: exemplos preocupantes
O relatório cita casos extremos, como Federico Valverde (Real Madrid), Bastoni (Inter de Milão) e Fabián Ruiz (PSG), que ultrapassaram 70 partidas em uma única temporada.
O goleiro Alisson, do Liverpool e da seleção brasileira, reforçou o alerta:
“Ninguém pergunta aos jogadores o que eles pensam sobre adicionar mais jogos, talvez nossa opinião não importe. Mas todo mundo sabe o que pensamos sobre jogar mais. Todos estamos cansados disso."
Casos de recuperação insuficiente também foram listados: Kim Min-Jae (Bayern) disputou 20 partidas consecutivas, enquanto Pedri (Barcelona) jogou em 80% dos compromissos sem descanso adequado. Além disso, jogadores como Javier Altamirano, do Chile, chegaram a atuar por seleção e clube em um intervalo de apenas 24 horas.
Viagens exaustivas e riscos à saúde
Outro ponto de preocupação é a quantidade de viagens. O equatoriano Moisés Caicedo, do Chelsea, percorreu 25 mil quilômetros em 14 dias para disputar apenas quatro jogos. Casos ainda mais extremos incluem o goleiro Mathew Ryan e o meia Marko Stamenic, que viajaram mais de 165 mil quilômetros em uma temporada — equivalente a quatro voltas completas na Terra.
The problem was not the FIFA Club World Cup, it was about the timing and lack of calendar alignment.
The tournament cut vital off-season rest and pre-season preparation far below recommended minimum standards. pic.twitter.com/8yKpVSAI7x
— FIFPRO (@FIFPRO) September 29, 2025
Recomendações médicas da FIFPro
Para reduzir os riscos da sobrecarga, a FIFPro apresentou recomendações a serem adotadas por clubes e competições:
- Mínimo de quatro semanas de férias entre temporadas
- Quatro semanas de pré-temporada obrigatórias
- Intervalo mínimo de dois dias entre partidas
- Monitoramento médico durante férias e viagens longas
- Folga obrigatória de um dia por semana
- Proibição de retorno antes da liberação médica após lesões
- Limite de carga para jogadores menores de 18 anos