Como futebol e Bossa Nova fizeram o mundo reconhecer o talento do Brasil

Lendas do esporte e da música transformaram o país
2024-01-25 04:00:10

Futebol e música é um dueto que permeia a sociedade brasileira desde os primeiros passos de uma pessoa nascida na nossa terra, mas muito se engana quem pensa que a história deste duo nasceu nos últimos anos.

Doce balanço a caminho do mar

  • Gênero musical deu origem a diversos outros estilos.
  • Craques do futebol brasileiro eram apaixonados pela criação nacional.
  • Bossa Nova e nosso modelo de jogar bola ganharam o mundo.

VEJA TAMBÉM

++ Música brasileira celebra Dia Nacional da Bossa Nova e de Tom Jobim
++ Zagallo e a montagem da maior seleção de todos os tempos
++ Levantamento aponta “esquecimento" do futebol brasileiro por Pelé

Quer ficar por dentro do que acontece de mais importante no “Mundo da Bola"!? Então fique ligado no Sambafoot! Siga nossos perfis no no Instagram, X (antigo Twitter) e Facebook!

Passado sombrio

O fim dos anos 30 e início da década de 50 foi um período difícil para o torcedor brasileiro. Após insucessos nas Copas de 1938 e 1950, o apaixonado pelo futebol se viu perdido e desiludido, crente que nunca celebraria a conquista mundial.

Fora das quatro linhas, o Brasil passava por instabilidade política. No período, Getúlio Vargas implantou a ditadura do Estado Novo e colocou o país na Segunda Guerra Mundial ao lado dos Aliados. Após a renúncia de GV em 1945, Eurico Gaspar Dutra foi eleito e seguiu no comando até 1951, quando Getúlio venceu eleições por voto direto e seguiu no cargo até 1954, quando se suicidou.

Na cultura, o país passava pela “Era de Ouro" no rádio após grandes avanços tecnológicos durante o governo Vargas. A ideia do político era dar ênfase no Brasil e na cultura nacional, reforçando uma das suas principais bandeiras.

Radionovelas, jornais diários, transmissões de jogos de futebol e músicas de artistas como Carmen Miranda, Dolores Duran, Dalva de Oliveira davam o tom dos principais produtos que chegavam aos brasileiros.

Mudança de rota

Mas foi na reta final dos anos 1950 que o Brasil mudou na música e no esporte. Os grandes arranjos instrumentais, tons líricos e trajes chiques dos artistas famosos não combinavam com a sociedade que seguia os processos de urbanização acelerados pelo governo de Juscelino Kubitschek, que iniciava a construção de Brasília.

O grupo formado por João Gilberto, Carlos Lyra, Nara Leão, Newton Mendonça, Tom Jobim e Vinicius de Moraes criou um novo estilo musical, que bebia na fonte do samba. Sem a mesma potência vocal, os artistas da nova mania nacional apostaram na simplicidade dos versos e na união das letras, com instrumentos de corda, piano e percussão.

A nova coqueluche seguiu os mesmos passos da seleção brasileira de futebol na Copa do Mundo de 1958, disputada na Suécia e que tinha no elenco nomes como Garrincha e Pelé.

Após a conquista inédita do primeiro mundial, o Brasil ganharia o mundo novamente em 1962, mesmo ano em que a Bossa Nova era apresentada fora do país. No dia 8 de outubro, Carlos Lyra, João Gilberto, Sérgio Mendes e Tom Jobim fizeram um show no Carnegie Hall, em Nova York, que colocou o estilo musical nacional de uma vez por todas na história da cultura.

Desde então, o Brasil se colocou no mundo como o país do futebol e da Bossa Nova. A Bossa é o Pelé dos estilos musicais e tal qual seus criadores, têm um capítulo especial na nossa história.

Transformação na música brasileira

O movimento da Bossa Nova sofreu uma grande mudança com o Golpe Militar de 1964. Na “linha do tempo" da música brasileira, o estilo calmo foi substituído pela MPB (Música Popular Brasileira), que apresentou diversas obras que respondiam aos ataques agressivos do governo com ironia e inteligência.

Artistas da Bossa Nova se uniram a novos músicos e seguiram compondo letras durante a ditadura, como Caetano Veloso, Chico Buarque, Gal Costa, Geraldo Vandré e Maria Bethânia.

Reconhecimento mundial

O patrimônio cultural brasileiro não ficou apenas por aqui. Também inspirada no jazz praticado nos Estados Unidos, a Bossa Nova ganhou o mundo. Embalada por Garota de Ipanema, de Tom Jobim e Vinicius de Moraes, eleita em 2005 pela Biblioteca do Congresso estadunidense como uma das 50 maiores obras musicais da humanidade, o estilo musical bateu asas e voou para outros continentes.

A música de Tom e Vinicius foi regravada por artistas reconhecidos mundialmente, como Frank Sinatra e Amy Winehouse, que fizeram uma versão em inglês do hit.

A história da Bossa não fica apenas em artistas que já nos deixaram. Uma prova disso é a cantora estadunidense Billie Eilish, de apenas 22 anos, que lançou uma música batizada de ‘Billie Bossa Nova" – em seu último álbum, de 2021.

Happier Than Ever, faixa-título e último álbum de Billie, recebeu sete indicações ao 64º Grammy Awards, entre elas ‘Álbum do Ano" e ‘Canção do Ano".

Outra jovem encantada pela Bossa Nova é a canadense Alessia Cara, de 27 anos. A garota homenageou o ritmo brasileiro em ‘Bluebird‘ e ‘Find My Boy‘, onde a artista canta à procura de um homem para "amar nas areias de Ipanema".

A banda de rock estadunidense Paramore surpreendeu ao unir os dois gêneros. O grupo se inspirou em “Ho-ba-la-la", de João Gilberto, na construção do álbum After Laughter, lançado em 2017.

Baila, Vini

A história iniciada décadas atrás continua refletindo em jovens que sequer imaginavam em nascer no auge da Bossa Nova. Como não lembrar das melhores rodas ao assistir jogadores como Vinicius Junior, Rodrygo, Endrick e tantos outros brasileiros bailando com a bola no pé como algo tão nosso?

Coincidência ou não, o trio segue levando o nome do Brasil para o mundo e vão se unir em definitivo no meio de 2024, quando todos serão atletas do Real Madrid, um dos maiores do esporte.

Endrick, Vinicius Junior e Rodygo, atacantes da seleção brasileira

Joilson Marconne/CBF