Zagueiro André Luiz, do Nancy, fala de sua experiência no futebol francês e da vontade de voltar a jogar no Brasil com exclusividade para o Sambafoot

*Com Jonas Moura O SAMBAFOOT bateu um papo exclusivo com o zagueirio André Luiz, ex-Atlético-MG, hoje no Nancy da França. André contou como foi o seu início no futebol, a sua estreia num clássico contra o Cruzeiro e a sua experiência de oito anos no futebol francês. Capitão do Nancy, o zagueiro revelou o seu […]
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sambafoot_admin
2012-10-21 01:40:00

*Com Jonas Moura

O SAMBAFOOT bateu um papo exclusivo com o zagueirio André Luiz, ex-Atlético-MG, hoje no Nancy da França. André contou como foi o seu início no futebol, a sua estreia num clássico contra o Cruzeiro e a sua experiência de oito anos no futebol francês. Capitão do Nancy, o zagueiro revelou o seu desejo: voltar ao Brasil para jogar por mais dois ou três anos.

Você poderia relembrar o seu começo de carreira?

Comecei em Minas Gerais, lá no Tupi de Juiz de Fora. Primeiro eu joguei categoria de base no Ipatinga, no Cruzeiro e depois eu fui para o Tupi em 2001, para jogar o Campeonato Mineiro da segunda divisão. A gente foi campeão e eu joguei lá em 2002 também. Aí, eu fui para o Marília, mas fiquei lá só um mês porque tive um problema com o treinador. Fiquei 6 meses parado, até dezembro de 2002, e em janeiro de 2003 eu fui para o Atlético-MG. Do Atlético, vim para o Nancy, em maio de 2005.

E você já estreou no Atlético-MG marcando um gol no Cruzeiro…

Justamente. E pior que o Atlético tinha sete zagueiros, e eu era o último, porque tinha um contrato de experiência, somente para o Campeonato Mineiro. O treinador era o Celso Roth e às vezes eu nem treinava, ficava lá brincando com a bola, correndo em volta do campo… Só que o campeonato começou e dois zagueiros se machucaram, um jogou mal… Aí não tinha mais ninguém, o Roth teve que me colocar contra o Cruzeiro. Eu fiz um gol com quatro minutos de jogo, joguei bem para caramba… Uma pena que a gente perdeu, mas na segunda-feira eu renovei o meu contrato para quatro anos.

O que você guarda de bom da época do Atlético-MG?

Eu joguei em 2003, 2004 e metade de 2005, mas para mim o melhor ano foi 2003, quando eu fui muito bem. Tive essa estreia contra o Cruzeiro, o Campeonato Brasileiro… Depois desse jogo contra o Cruzeiro, eu virei titular absoluto e fazia dupla com o Scheidt (N. R.: ex-zagueiro que também teve passagens por Grêmio, Corinthians e Botafogo) na zaga. Outra lembrança boa eu tenho da estreia contra o Santos, no Brasileirão de 2003. Na época, o Santos tinha Robinho, Diego, Renato, Elano… Essa turma toda.

Você passou por um momento difícil no Atlético-MG, porque brigou contra o rebaixamento em 2004 e saiu no meio de 2005, quando o Galo caiu para a Série B…

Justamente, por isso que eu falei que o melhor ano foi 2003. Em 2004, mudaram todos os jogadores. Chegaram vários que tinham se destacado na Série B, na Série C… Aí acabamos lutando para não cair. Só escapamos na última rodada, quando ganhamos do São Caetano. Em 2005, eu fiquei até maio. O meu último jogo foi contra o Flamengo, no Mineirão, e nós ganhamos por 3 a 1. Eu já estava até vendido, não precisava nem jogar… Eu me lembro que o presidente da época, o Ricardo Guimarães (N.R.: dono do Banco BMG), me ligou e falou: “Você já está vendido, joga se quiser”. O Tite, técnico da época, pediu que eu jogasse e eu joguei. Depois desse jogo, eu fui embora.

Depois você foi para o Nancy e está aí desde 2005. Como foi a adaptação ao futebol francês?

O primeiro ano foi um pouco complicado, porque eu cheguei e, logo depois, vieram o Adaílton, baiano, e o Kim, atacante que hoje está no Náutico e que tinha jogado comigo no Atlético-MG. Foi complicado porque não sabíamos falar nada em francês… A sorte é que éramos três. Quando veio o inverno, quebrou tudo… Nancy é uma das cidades mais frias da França, faz frio demais. Eu lembro que, quando estava nevando muito, eu falava para o Kim que não iria durar muito no Nancy não… Mas eu fui me adaptando e agora já tenho oito anos aqui.

O que fez você se adaptar tão bem ao ambiente?

Quando eu cheguei, teve esse inverno aí que eu falei, em que eu pensei em ir embora. No primeiro ano, eu joguei as três primeiras rodadas e depois comecei a ficar na reserva por causa da adaptação. Aqui, a zaga sobe muito, fica em linha. No Brasil não é assim, então eu estranhei e não estava me adaptando bem. Aí o treinador me colocou para jogar de volante e eu joguei bem. Mais ou menos, desde a 13ª rodada do Campeonato Francês de 2005 eu nunca mais deixei de ser titular.

Para falar a verdade, eu não gostava muito do futebol daqui. Mas você tem que se acostumar, tem contrato para cumprir… Me adaptei e fiz vários amigos. Tive propostas concretas para sair, do Montpellier, de um time do Catar, do Wolfsburg… Só essa do Wolfsburg que eu não fiquei sabendo, porque a diretoria do Nancy recusou antes de me falar. Depois disso, eu renovei o meu contrato por mais dois anos. Eu decidi ficar porque os meus filhos já estão adaptados aqui na escola, sabe? Eu tenho três filhos, sendo uma filha de 12 anos e outra de 6 que já falam francês. Por isso, decidi não mudar de cidade… Já conheço todo mundo, sou o capitão do time…

O que você percebeu de diferença do futebol brasileiro para o francês?

Ah, o futebol brasileiro é mais jogado, com mais toque de bola… Para você ver, no Brasil, quando o zagueiro recebe a bola do goleiro, pode pensar uns 30 minutos para dar um passe (risos). É mais lento até o meio-campo. Daí para frente, o futebol no Brasil é muito mais cadenciado, muito mais bonito. Aqui na França é muito pegado, quando o zagueiro recebe a bola já vêm três em cima para roubar… É muita pegada, muita correria. Eu prefiro o futebol brasileiro.

Hoje, você é capitão do Nancy. Como foi chegar sem falar a língua e, sete anos depois, ter toda essa moral?

Então, depois da minha primeira temporada eu virei titular e, desde então, só tive dois treinadores aqui. Teve o Pablo Correa, que ficou seis anos, e depois veio o Jean Fernandez, treinador conhecidíssimo aqui na França. Com o Pablo Correa, eu não era capitão, mas tinha o respeito dos outros jogadores por ter mais tempo de clube.

Você acha que o fato de ser brasileiro te deu uma certa moral?

O pessoal aqui gosta de brasileiro, mas eu acho que nem é por isso não. Mesmo se fosse de outro país, acho que não iria mudar muita coisa não, porque sou um dos mais velhos do grupo. Tenho 32 anos, e o mais velho tem 33. Hoje, sou o jogador com mais tempo de clube. Tem vários jogadores com três anos de Nancy, quatro anos… Eu já tenho oito, por isso ganhei a faixa de capitão há dois anos atrás. Foi até um dos motivos que não me fez ir embora. Quando teve a proposta do Montpellier, a diretoria (do Nancy) me chamou para ajudar a escolher o treinador, sabe? Isso ajuda…

Você renovou por três anos, em 2011…

Justamente.

A ideia é cumprir até o final? Há uma cláusula que te permite sair caso o time seja rebaixado…

Isso mesmo. Em 2011, eu renovei por dois anos com a opção de mais uma temporada. Nesse ano, se o Nancy cair, eu posso escolher se fico ou se vou embora. Eu também tenho uma cláusula no meu contrato que diz que, se eu encerrar a carreira aqui, eu me torno uma espécie de embaixador do clube no Brasil para negociar com jogadores. Eles demonstraram muita confiança no meu trabalho.

Mesmo com isso, você quer voltar para o Brasil?

Quero sim, o meu objetivo é voltar. Eu renovei dessa maneira aqui, mas creio que, mesmo se eu voltar para o Brasil e jogar por mais dois ou três anos antes de encerrar a carreira, o meu relacionamento com o Nancy não vai mudar. Eles têm confiança em mim e eu tenho neles, mas eu quero voltar para o Brasil quando acabar o campeonato aqui (N. R.: em maio do ano que vem).

Qual foi o atacante mais difícil que você já enfrentou, aquele que te deixou em apuros?

Sinceramente, o atacante que mais me deu problema no Brasil foi o Deivid, que hoje está no Coritiba. Em 2003, no Cruzeiro, e em 2004, no Santos, ele tava voando, jogando muita bola. Já aqui na França foi o Benzema, do Real Madri, que jogava no Lyon. O Ribéry (N. R.: atualmente no Bayern de Munique, antes no Olympique de Marselha) também me deu trabalho, mas o Benzema é complicado (risos).

A situação do Nancy no Campeonato Francês não é nada boa. A que você atribui o mau momento vivido pela equipe?

No ano passado, a gente estava na mesma situação, nessa mesma fase do campeonato. Tivemos que chegar na 11ª rodada para ter a primeira vitória. Mas era de se esperar, porque o elenco foi totalmente reformulado. O treinador, Pablo Correa, foi embora, e com ele saíram 16 jogadores. Chegaram 10, mas a gente não se conhecia muito bem, não tinha o entrosamento ideal e isso dificultou muito. Mas aí assumiu o Jean Fernandez, que é um técnico experiente e muito capacitado. Ele conseguiu acertar o plantel e nós ficamos 10 jogos sem perder. Esse ano, eu acho que houve certo relaxamento depois do que fizemos na temporada passada. Até vencemos no início, mas depois relaxamos. Acho que é uma situação até normal. Não foi falta de vontade. Só que agora chegamos a seis rodadas seguidas com derrotas.

Você acha que essa sequência abalou a confiança do grupo?

A gente tem que continuar com confiança, né… Se perdermos isso, já era. Eu, como capitão, tento passar isso para os outros jogadores. O treinador me pede isso. E tenho certeza de que vamos sair dessa situação. O grupo é muito bom. Não se pode achar que o problema é um ou outro. Tem que manter a união e o trabalho, porque quando a gente ganhar, tudo vai mudar. Tirando a derrota para o Saint-Etienne, quando fomos ridículos, temos feito bons jogos, mesmo perdendo. Contra o Montpellier, eles tiveram dois chutes para gol e marcaram, enquanto nós tivemos 20 e não conseguimos. Mas são coisas que acontecem na carreira de qualquer jogador.

Você também foi campeão da Copa da Liga Francesa em 2006, uma das principais conquistas do clube, né?

Exatamente. Quando essa Copa começa, os times não estão pensando em brigar pra ser campeão. Isso até a segunda fase. Só que são quatro jogos pra chegar à final e ela dá vaga na Copa da UEFA. Então, quando chegam as quartas de final, todo mundo começa a colocar os principais jogadores. No caminho até a final, contra o Nice, acabamos dando sorte de termos sido sorteados pra jogar em casa. Fomos campeões contra eles. Eu joguei todos os jogos como titular, menos a final, que foi o melhor jogo. Entrei faltando 15 minutos.

E a torcida aí, pressiona muito?

Não pressiona, não. É o que eu sempre falo, é completamente diferente do que acontece no Brasil. A única coisa anormal aqui foi ano passado, quando a gente não tava ganhando e uma parte da nossa torcida invadiu o CT. Entraram 40 torcedores no vestiário, jogaram bomba… Eu acho que isso não é normal. Torcedor não tem que invadir CT. Mas fora isso, eles estão sempre ajudando o time, mesmo nas piores situações, como agora. Acaba o jogo e eles estão lá encorajando para o jogo que está por vir. É muito diferente dos tempos de Galo, né? Na época, quando a gente tava bem, os caras estavam em cima. Mas quando começava a ficar mal, a pressão era forte.

Você tem acompanhado o Campeonato Brasileiro esse ano? O que está achando?

Desde quando eu saí do Brasil eu tenho acompanhado tudo, principalmente o Atlético-MG. Vi quando caiu, quando subiu… Esse ano eu pensei que o time fosse ser campeão, mas agora tá praticamente definido que esse título é do Fluminense. O Galo teve chance, estava na frente, mas perdeu alguns jogos e agora acho que o Fluminense não vai mais perder pontos para times considerados pequenos.

Na França, há algum tempo, houve aquele domínio do Lyon, mas hoje o cenário é outro, com o campeonato bem mais aberto. Como você tem visto a situação dos clubes do futebol francês?

Quando eu cheguei aqui, ainda havia o domínio do Lyon, que foi campeão por sete anos seguidos. Mas depois houve uma reformulação e mudou tudo. O Caçapa foi embora, o Juninho (Pernambucano) foi embora… foi uma renovação. Acabou que o time deles não conseguiu ser mais o que era antes. No meio disso foi surgindo o Lille. Eles contrataram três ou quatro jogadores, mantiveram a base e hoje é um time considerado grande. Depois teve o Marseille, o Bordeaux… O Campeonato Francês hoje tem cinco times considerados fortes. Fora isso, são 13 times de mesmo nível e dois intermediários. Então aqui a gente pode terminar em sétimo, como pode terminar em último. É imprevisível.

Como é o relacionamento com os treinadores aí?

No começo no Atlético-MG, com 23, 24 anos, eu não tinha aquela liberdade de conversar com o treinador. Mesmo quando o treinador falava que a porta de sua sala estava aberta para conversar eu não ia. Tem jogador aqui que pensa do mesmo jeito que eu pensava quando cheguei. Mas agora não. Hoje eu vou lá, converso, dou opinião, e não tem problema nenhum.

E o método de treinamento, é diferente do Brasil?

A gente treina todo dia de manhã e joga sábado. O bom é que aqui é tudo perto. Às vezes a gente viaja no dia do jogo. Viagem mais longa aqui é de 2h, de avião. Os treinos fortes são terça e quarta. Quinta e sexta você não faz praticamente nada. E domingo é massagem. Ou seja, se comparar com o Brasil, a gente não treina forte, não (risos).

Você poderia relembrar o seu começo de carreira?

Comecei em Minas Gerais, lá no Tupi de Juiz de Fora. Primeiro eu joguei categoria de base no Ipatinga, no Cruzeiro e depois eu fui para o Tupi em 2001, para jogar o Campeonato Mineiro da segunda divisão. A gente foi campeão e eu joguei lá em 2002 também. Aí, eu fui para o Marília, mas fiquei lá só um mês porque tive um problema com o treinador. Fiquei 6 meses parado, até dezembro de 2002, e em janeiro de 2003 eu fui para o Atlético-MG. Do Atlético, vim para o Nancy, em maio de 2005.

 

E você já estreou no Atlético-MG marcando um gol no Cruzeiro…

Justamente. E pior que o Atlético tinha sete zagueiros, e eu era o último, porque tinha um contrato de experiência, somente para o Campeonato Mineiro. O treinador era o Celso Roth e às vezes eu nem treinava, ficava lá brincando com a bola, correndo em volta do campo… Só que o campeonato começou e dois zagueiros se machucaram, um jogou mal… Aí não tinha mais ninguém, o Roth teve que me colocar contra o Cruzeiro. Eu fiz um gol com quatro minutos de jogo, joguei bem para caramba… Uma pena que a gente perdeu, mas na segunda-feira eu renovei o meu contrato para quatro anos.

 

O que você guarda de bom da época do Atlético-MG?

Eu joguei em 2003, 2004 e metade de 2005, mas para mim o melhor ano foi 2003, quando eu fui muito bem. Tive essa estreia contra o Cruzeiro, o Campeonato Brasileiro… Depois desse jogo contra o Cruzeiro, eu virei titular absoluto e fazia dupla com o Scheidt (N. R.: ex-zagueiro que também teve passagens por Grêmio, Corinthians e Botafogo) na zaga. Outra lembrança boa eu tenho da estreia contra o Santos, no Brasileirão de 2003. Na época, o Santos tinha Robinho, Diego, Renato, Elano… Essa turma toda.

 

Você passou por um momento difícil no Atlético-MG, porque brigou contra o rebaixamento em 2004 e saiu no meio de 2005, quando o Galo caiu para a Série B…

Justamente, por isso que eu falei que o melhor ano foi 2003. Em 2004, mudaram todos os jogadores. Chegaram vários que tinham se destacado na Série B, na Série C… Aí acabamos lutando para não cair. Só escapamos na última rodada, quando ganhamos do São Caetano. Em 2005, eu fiquei até maio. O meu último jogo foi contra o Flamengo, no Mineirão, e nós ganhamos por 3 a 1. Eu já estava até vendido, não precisava nem jogar… Eu me lembro que o presidente da época, o Ricardo Guimarães (N.R.: dono do Banco BMG), me ligou e falou: “Você já está vendido, joga se quiser”. O Tite, técnico da época, pediu que eu jogasse e eu joguei. Depois desse jogo, eu fui embora.

Depois você foi para o Nancy e está aí desde 2005. Como foi a adaptação ao futebol francês?

O primeiro ano foi um pouco complicado, porque eu cheguei e, logo depois, vieram o Adaílton, baiano, e o Kim, atacante que hoje está no Náutico e que tinha jogado comigo no Atlético-MG. Foi complicado porque não sabíamos falar nada em francês… A sorte é que éramos três. Quando veio o inverno, quebrou tudo… Nancy é uma das cidades mais frias da França, faz frio demais. Eu lembro que, quando estava nevando muito, eu falava para o Kim que não iria durar muito no Nancy não… Mas eu fui me adaptando e agora já tenho oito anos aqui.

 

O que fez você se adaptar tão bem ao ambiente?

Quando eu cheguei, teve esse inverno aí que eu falei, em que eu pensei em ir embora. No primeiro ano, eu joguei as três primeiras rodadas e depois comecei a ficar na reserva por causa da adaptação. Aqui, a zaga sobe muito, fica em linha. No Brasil não é assim, então eu estranhei e não estava me adaptando bem. Aí o treinador me colocou para jogar de volante e eu joguei bem. Mais ou menos, desde a 13ª rodada do Campeonato Francês de 2005 eu nunca mais deixei de ser titular.

Para falar a verdade, eu não gostava muito do futebol daqui. Mas você tem que se acostumar, tem contrato para cumprir… Me adaptei e fiz vários amigos. Tive propostas concretas para sair, do Montpellier, de um time do Catar, do Wolfsburg… Só essa do Wolfsburg que eu não fiquei sabendo, porque a diretoria do Nancy recusou antes de me falar. Depois disso, eu renovei o meu contrato por mais dois anos. Eu decidi ficar porque os meus filhos já estão adaptados aqui na escola, sabe? Eu tenho três filhos, sendo uma filha de 12 anos e outra de 6 que já falam francês. Por isso, decidi não mudar de cidade… Já conheço todo mundo, sou o capitão do time…

 

O que você percebeu de diferença do futebol brasileiro para o francês?

Ah, o futebol brasileiro é mais jogado, com mais toque de bola… Para você ver, no Brasil, quando o zagueiro recebe a bola do goleiro, pode pensar uns 30 minutos para dar um passe (risos). É mais lento até o meio-campo. Daí para frente, o futebol no Brasil é muito mais cadenciado, muito mais bonito. Aqui na França é muito pegado, quando o zagueiro recebe a bola já vêm três em cima para roubar… É muita pegada, muita correria. Eu prefiro o futebol brasileiro.

 

Hoje, você é capitão do Nancy. Como foi chegar sem falar a língua e, sete anos depois, ter toda essa moral?

Então, depois da minha primeira temporada eu virei titular e, desde então, só tive dois treinadores aqui. Teve o Pablo Correa, que ficou seis anos, e depois veio o Jean Fernandez, treinador conhecidíssimo aqui na França. Com o Pablo Correa, eu não era capitão, mas tinha o respeito dos outros jogadores por ter mais tempo de clube.

 

Você acha que o fato de ser brasileiro te deu uma certa moral?

O pessoal aqui gosta de brasileiro, mas eu acho que nem é por isso não. Mesmo se fosse de outro país, acho que não iria mudar muita coisa não, porque sou um dos mais velhos do grupo. Tenho 32 anos, e o mais velho tem 33. Hoje, sou o jogador com mais tempo de clube. Tem vários jogadores com três anos de Nancy, quatro anos… Eu já tenho oito, por isso ganhei a faixa de capitão há dois anos atrás. Foi até um dos motivos que não me fez ir embora. Quando teve a proposta do Montpellier, a diretoria (do Nancy) me chamou para ajudar a escolher o treinador, sabe? Isso ajuda…

 

Você renovou por três anos, em 2011…

Justamente.

 

A ideia é cumprir até o final? Há uma cláusula que te permite sair caso o time seja rebaixado…

R.: Isso mesmo. Em 2011, eu renovei por dois anos com a opção de mais uma temporada. Nesse ano, se o Nancy cair, eu posso escolher se fico ou se vou embora. Eu também tenho uma cláusula no meu contrato que diz que, se eu encerrar a carreira aqui, eu me torno uma espécie de embaixador do clube no Brasil para negociar com jogadores. Eles demonstraram muita confiança no meu trabalho.

 

Mesmo com isso, você quer voltar para o Brasil?

Quero sim, o meu objetivo é voltar. Eu renovei dessa maneira aqui, mas creio que, mesmo se eu voltar para o Brasil e jogar por mais dois ou três anos antes de encerrar a carreira, o meu relacionamento com o Nancy não vai mudar. Eles têm confiança em mim e eu tenho neles, mas eu quero voltar para o Brasil quando acabar o campeonato aqui (N. R.: em maio do ano que vem).